No dicionário da língua portuguesa Houaiss, empreender significa realizar ou decidir realizar uma tarefa difícil e trabalhosa. Começar um negócio não é fácil mesmo, mas também não é impossível. O segredo está em muita pesquisa e em um bom planejamento.
A boa notícia é que não há restrições para começar a pensar no seu negócio. Engana-se quem pensa que empreendedorismo é apenas caso de talento nato. Essa atitude pode ser estimulada de diversas maneiras, seja na família ou até mesmo na empresa. E em qualquer idade.

"É preciso despertar o interesse na pessoa e que ela tenha espaço para que consiga criar seu projeto", afirma Vera Volpato, empresária e professora de marketing e empreendedorismo social do Senac SP.

"Pode ser desenvolvido e estimulado já nas crianças", afirma Sylvio Araujo Gomide, diretor do Comitê de Jovens Empreendedores da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Ele dá um exemplo básico: os pais param para abastecer o carro num posto de gasolina lotado. Se tivessem espírito empreendedor comentariam o fato, perguntando se é por causa do bom atendimento, se a escolha do ponto foi fundamental. Isso já vai despertando essa visão diferenciada, que depois pode ser aprimorada, principalmente com o trabalho.

Duas características, no entanto, são fundamentais: ter paixão pelo negócio e ter espírito batalhador para superar os momentos difíceis.

Hora de colocar as mãos à obra
O primeiro passo é planejar a execução do negócio. Para isso, é preciso conhecer muito bem as características, particularidades e desafios do ramo escolhido. Noventa por cento das empresas fecham antes de completar o primeiro ano no Brasil. "Muitas foram criadas a partir de grandes idéias, mas sem embasamento em pesquisas", diz Sylvio Gomide.

E melhor se esse conhecimento não for apenas teórico. "Ganha-se bases mais sólidas trabalhando em uma empresa do ramo", afirma Vera. A empresa na qual se trabalha não só pode ser um campo de experimentação como também um futuro cliente. "Muitos empregados tornam-se prestadores de serviço qualificados, pois já conhecem quais as principais necessidades do cliente. Ou seja, o funcionário acaba não deixando a companhia de fato", explica a professora do Senac.

Foi o que aconteceu com as empresárias Marcelle Comi e Fernanda Lancelloti. Há cinco anos abriram a Dreams Arquitetura de Idéias, empresa especializada em criar e produzir gifts (brindes) corporativos e promocionais. Hoje são prestadoras de serviço da agência onde trabalhavam. Foi lá que surgiu a idéia de ter um negócio próprio. "Vimos que havia uma demanda enorme que não era atendida", diz Marcelle.

Outros desafios
Mas isso é só o começo. Além do conhecimento técnico, é preciso saber lidar com o mercado, formar e treinar equipe, conhecer o público-alvo, cuidar da administração e dos trâmites burocráticos.

Mesmo com tudo redondo - finanças, planejamento, equipe -, ainda falta um elemento fundamental: estabilidade emocional para orquestrar todos esses elementos e, principalmente, manter a equipe de trabalho motivada. Nisso as mulheres têm vantagem. "Acreditam muito mais que irão ser bem-sucedidas, aceitam os desafios mais facilmente do que os homens", afirma Vera.

Comprovação
Isso pode ser comprovado pela história da Dreams. No começo, o desafio foi divulgar uma empresa que atuava num segmento novo e não ter cases no portfólio para ajudar a fechar negócios. E para vencer essa etapa, as empresárias trabalharam no risco. "Fazíamos todo o projeto, prestávamos consultoria, sem ter nenhuma garantia de que o cliente iria fechar conosco. Com o passar do tempo, decidimos valorizar a empresa e hoje cobramos pela consultoria e criação dos projetos. O cliente pode fazer ou não a produção conosco", conta Marcelle.

O resultado? Uma carteira de clientes como Lufthansa, Visa Electron, Telecine, Nokia, Alianz, além de agências de promoção e propaganda como Loducca, Talent, Ogilvy, Samurai, entre outras. No ano passado, a Dreams foi uma das 10 empresas finalistas no 2º Prêmio Empreendedor de Sucesso, promovido pelo Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas.

Principais passos para ter seu próprio negócio
- Pesquise o setor no qual pretende atuar. E não se baseie apenas na concorrência. "Seja inovador, pois é possível ter sucesso mesmo em áreas que julgamos estar repletas", afirma Sylvio.

- Estude o segmento a fundo e todos os aspectos necessários à boa administração de uma empresa. É errado pensar que o negócio dará certo apenas com esforço, se você trabalhar das 8h às 22h, por exemplo. "Não se deve decidir abrir uma loja só porque conhece uma que existe há 30 anos", diz Vera.

- Comece com os pés no chão. Trace planos que sejam viáveis.

- O negócio, em qualquer área que seja, deve ter bagagem social e ambiental. "Não é papo da moda. Empresas com esse perfil são mais bem vistas. Se não estiver ligado a esses setores, o negócio não irá sobreviver a longo prazo", diz o diretor do CJE da Fiesp.

- Empreender não significa fazer tudo sozinha. É possível contar com as informações e conselhos de empresas de consultoria, que organizam um plano de ação, verificam se o negócio é viável antes de se iniciar, listam os pontos positivos e negativos, prevêem o tempo de retorno e identificam o público-alvo e os principais concorrentes.

- Mesmo em negócios que necessitam de baixo capital de investimento, é necessário contar com capital de giro, o que pode multiplicar os gastos iniciais. Durante seis meses não se pode contar com os rendimentos do negócio. Todo o lucro deve ser reinvestido como capital de giro. As despesas particulares não podem em hipótese alguma ser pagas com o dinheiro do empreendimento. Isso é muito importante para garantir o futuro do investidor, principalmente quando se está investindo dinheiro proveniente de aposentadoria ou rescisão de contratos de trabalho.

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